quinta-feira, junho 08, 2006

"pela tarde o céu a terra
e mesmo tu formam uma densa pasta
de nuvens.
recordo a tua boca, as tuas pernas
em arco sobre o penedo..."
*
fernando luis sampaio - (1960)
2006, fresco março @ sta catarina. lisboa

2 Comments:

Rute Martins said...

"Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca d'outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando ua noite, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Ua nuvem que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.

Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
- «Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?»

Não acabava, quando ua figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos."

Camões- Os Lusíadas-Canto V

brilho da lua said...

texto magnífico que desencantaste :O)))

também fernando pessoa na "mensagem" me impressiona..

"o mostrengo que está no fim do mar
na noite de breu ergueu-se a voar;
à roda da nau voou trez vezes,
voou trez vezes a chiar,
e disse: «Quem é que ousou entrar
nas minhas cavernas que não desvendo,
meus tectos negros do fim do mundo?»